9 de set. de 2012

Palavras ao vento

        "Quando o tempo passou tão rápido? O desenvolvimento pouco sustentável que minha vida trilha agora me faz sentar na cadeira. A cadeira velha, confortável e com um furo no braço que eu costumava arranhar. Esse detalhe busca uma memória dentro de mim. O café fumegante que eu esperava todo fim de tarde, que você sempre trazia com um sorriso no rosto. Quando nos tornamos tão decadentes, tão independentes um do outro? Algumas memórias me fazem sorrir, como aquela do dia em que fomos pescar, e ambos não sabíamos o que fazíamos. Cair no rio foi só uma leve consequência. As lembranças duras trocam o sorriso leve por algo amargo, uma expressão trágica, quase dramática. Essa lembranças não quero compartilhar. Não quero viver o passado outra vez. O problema está no hoje, nos fantasmas que sentam no sofá a minha frente. Esses me encaram como se a errada fosse eu. Como se, ao passar pela porta, você tenha jogado a culpa em mim. Mas que culpa? Alguém a tinha? Tento não senti-los, e voltar apenas a estar sentada aqui. Sem pensamentos nem nada perturbador. Era o meu momento, e só eu era capaz de conduzir, de ter sucesso. Eu precisava deixar no passado o que o tempo se encarregou de levar embora. Você. Nessa casa, para todo lugar que eu olho, vejo o que não quero. Minha vida correu em círculos por tempo de mais. Tempo perdido." Ao acabar de escrever, levanto-me pragmática da cadeira, rabisco um endereço no envelope e pego minha última mala. Eu estava deixando tudo para trás, indo em busca do futuro.
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